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BRUNO CAVA E GIUSEPPE COCCO |
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Existe uma estranha coincidência em muitas das críticas ao capitalismo, à
esquerda e à direita. Com contornos antifinanceiros discretamente
antissemíticos, neopopulistas de um lado e do outro se reúnem para
denunciar os efeitos desumanizadores do dinheiro. O dinheiro seria o
fruto de uma grande "separação" que neutraliza o que há de vital e
criativo no humano, em prol dos aspectos quantificadores, abstratos e
instrumentais do homem econômico. A teoria da alienação de Karl Marx
está no cerne dessa crítica moral do dinheiro como "o proxeneta
universal dos homens e dos povos". A sociedade capitalista não passaria
de um enorme prostíbulo em que, através da relação monetária do salário,
o corpo individual e coletivo dos trabalhadores é negociado e vendido.
Pois bem. Bruno Cava e Giuseppe Cocco vão na contramão dessas abordagens
do dinheiro. Com a virada afetiva, cognitiva, midiática do capitalismo,
o dinheiro não é mais mediação alienadora das relações entre seres
humanos. Os corpos - feixes de afetos, cuidado, cognição - é que se
tornam imediatamente dinheiro, um dinheiro vivo, novo regime de
funcionamento do fenômeno monetário. O valor, agora, é diretamente
desejo e consumo, recriação. |