O Congresso decorrerá na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, nos dias 21, 22 e 23 de junho de 2022 (em formato misto: presencial e online)
Informações completas no site do evento: https://congresso-interartes.jimdosite.com/
No cenário civilizacional contemporâneo, marcado globalmente por um multivocalismo hipertextual cada vez maior e por hábitos que muito assentam na cultura da velocidade e do imediato (tantas vezes em detrimento da dimensão humana e humanista), torna-se imprescindível proporcionar hábitos que de algum modo possam contribuir para a preservação, esclarecimento, divulgação e estruturação de outra memória, marcada esta por uma consciência de leitura, de escrita, de representação e de produção artística como fonte da “vitalidade do espírito”. Sabendo-se que nem a Literatura, nem as outras Artes são fenómenos estáticos, há, portanto, que lhes saber outorgar não só o reconhecimento dialogal, e dialógico, entre o local e o global, mas também, e acima de tudo, a essência humanista. O enorme desenvolvimento tecnológico que caracteriza a sociedade contemporânea — corporizado num universo marcado cada vez mais pelas redes sociais e pelas novas tecnologias da informação e comunicação que vão cromatizando polifonicamente uma cultura digital com uma interface global dominada pelo poder cibercultural e hipertextual — tem trazido consigo uma consequência incontornável ao nível das relações com a experiência literária e artística: paulatinamente se privilegia mais o digital; fixam-se novos timings de produção (multivocal) na disponibilização de conteúdos; promovem-se leituras hipertextuais; as literaturas nacionais e as artes locais tornam-se progressivamente fenómenos supranacionais; uma visível transversalidade multidisciplinar vai desafiando o diálogo íntimo entre diferentes produções discursivas (literária, musical, cinematográfica, pictórica, fotográficas, de dança, etc.). Mais: com a globalização e o espaço digital da internet, as fronteiras entre o local e o global vão-se diluindo; os indivíduos já não “vivem” exclusivamente nas comunidades locais e nacionais; as criações intelectuais e artísticas locais tornam-se propriedade de todos, integrando-se (quase sempre à custa do extravio da “aura” benjamininana) as literaturas e as criações artísticas locais num espaço de informação mundial. Nesta interseção de culturas, de serviços e bens culturais (literários e artísticos), comprometer-se-á o lugar da literatura e das artes locais, regionais, a favor de uma uniformidade global? Ou, pelo contrário, tender-se-á para a glocalização multidimensional desse objeto, muito à custa (por parte de cada produtor do objeto literário e artístico) da fluidez ideativa, da fluidez associativa, da flexibilidade e da originalidade, enquanto indicadores essenciais promovidos pela “construtividade meta-operativa”, princípio dominante da criatividade e do pensamento divergente?
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