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Afetividades Comunicantes
Não há dúvidas de que a comunicação (seus processos, discursos, formas e tecnologias) é central tanto para a reflexão quanto na reconfiguração da sociedade contemporânea. Na última década, observamos incrédulos a organização e a ascensão do populismo de extrema-direita e de direita no Brasil e no mundo. Tais movimentos pelo poder se deram no âmbito de políticas de gerenciamento de afetos, na definição de amigos e inimigos, de alvos para o açoite e a repressão denominados como “ideologia de gênero”, “guerra cultural”, “defesa da família e da moral”, o que, não raro, é lgtbfóbico, misógino e racista. Eles também se pautam pela construção de ideias e práticas ressentidas que procuram vilipendiar políticas de afirmação identitária e de reparação social, colocadas em oposição a pânicos morais que se estruturam em torno de termos como “racismo reverso”, “orgulho heterossexual”, “cura gay”, “feminazi”, “super hétero”, “luta anticomunista”. O entrelaçamento entre neoliberalismo e políticas de extrema-direita, a que assistimos, tem este objetivo: romper com as políticas democráticas racionais e deliberativas e instaurar o ódio como política. A política de afeto e suas estratégias sensíveis, lembrando conceito cunhado por Muniz Sodré, têm longas genealogias históricas e nos coloca diante de inúmeras mobilizações em nome da “vontade popular” e “do povo”, à esquerda ou à direita, algo que desempenhou um papel fundamental no fornecimento de base para a política liberal ocidental da era pós-Segunda Guerra Mundial.
A segunda edição do evento “Conversações” abre o ano letivo de 2021 do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ, mais uma vez, de maneira remota, marcado pela pandemia de COVID-19, que aqui assume traços mais catastróficos e violentos diante da condução negacionista e da transformação das questões sanitárias em disputa político-partidária e eleitoral. Da mesma forma, professores, pesquisadores, docentes do Programa, alunos e sociedade dialogam entre si, partindo de distintas perspectivas teórico-metodológicos como objetivo comum de refletir sobre como o campo da comunicação altera sensivelmente o mundo contemporâneo: em sua dimensão política, como já dito, mas também as experiências urbanas, as sociabilidades, os vínculos comunitários, as artes, a cognição, a memória, a verdade.
Refletir sobre as afetividades comunicantes, sobre como afetos são mobilizados para produzir o comum, senso de pertencimento, de identificação, mas também repulsa, recusa, medo e violência, é o objetivo principal deste evento.
26/04
10h
Ódios Políticos e política do ódio
Ana Kiffer (PUC-Rio) e Gabriel Giorgi (New York University)
Mediação: Igor Sacramento
14h
Mesa 1: A sociedade incivil e os discursos de ódio
Muniz Sodré
João Freire Filho
Mediação: Raika Moises
18h
The Wild Things: The disorder of desire
Jack Halberstam (Columbia University)
Tradução
Mediação: Denilson Lopes
27/04
14h
Mesa 2: Ecos afetivos
Maria Cristina Franco Ferraz
Beatriz Jaguaribe
Ieda Tucherman
Mediação: Phillippe Sendas
18h
Afectos sudacas. Acción y desilusión según Andrés Di Tella y la protesta chilena
Cecilia Macón (Universidad de Buenos Aires)
Mediação: Beatriz Jaguaribe
28/04
14h
Mesa 3: Cidades, mobilidades e afetos
Raquel Paiva
Micael Herschmann
Mohammed ElHaiji
Mediação: Maria Lívia Roriz
18h
Batalhas morais: política identitária na esfera pública técnico-midiatizada
Richard Miskolci (Unifesp)
Mediação: Igor Sacramento
29/04
14h
Mesa 4: Cultura e Política
Henrique Antoun
Marcos Dantas
Eduardo Coutinho
Mediação: Flavia Leiroz
18h
Black Feminist Refusals and the Genealogy of Non-Binary Blackness
Tavia Nyong’o (Universidade de Yale)
Tradução
Mediação: Denilson Lopes
30/04
14h
Mesa 5: Internet, política e crise democrática
Fernanda Bruno
Ivana Bentes
Suzy dos Santos
Mediação: Julio Sanches
17h
O arcaico e o moderno: Representações da favela, 1890-1930
Rafael Cardoso (Uerj)
Mediação: Maurício Lissovsky
Palestrantes
26 de abril
10h
Ódios políticos e política do ódio
Ana Kiffer é escritora, pesquisadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio. É colunista da Revista Pessoa na qual vem escrevendo séries de ensaios e de ficções. Em 2018/2019 foi professora visitante sênior pela Capes na Universidade Paris 7, França. Especialista na obra de Antonin Artaud, cujas cartas organizou na publicação “Antonin Artaud, a perda de si” (2018). É autora dos livros de ensaios “Do desejo e devir: o escrever e as mulheres” (2019) e “Antonin Artaud” (2016), e de poemas “Tiráspola e desaparecimentos” (2017) e “Todo mar” (2019).
Gabriel Giorgi é crítico, pesquisador e professor da New York University (NYU). Estudou na Universidade Nacional de Córdoba (Argentina) e na NYU. É autor de “Sueños de extermínio: homosexualidad y representación en la literatura argentina” (2004) e “Formas comuns: animalidade, biopolítica, cultura”, traduzido para o português e publicado no Brasil em 2016. Coeditou uma antologia de ensaios sobre biopolítica, “Excessos de vida” (2007). Foi professor e pesquisador visitante na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2016. Tem participado de diversos seminários nos Estados Unidos e na América Latina.
18h
The Wild Things: The disorder of desire
Jack Halberstam é professor titular no Departamento de Inglês e diretor do Instituto de Pesquisa sobre Mulheres, Gênero e Sexualidade na Universidade de Columbia, Nova Iorque, É autor de “Skin Shows: Gothic Horror and the Technology of Monsters”(Duke University Press, 1995), “Female Masculinity” (Duke University Press, 1998), “In A Queer Time and Place” (NYU Press, 2005), “The Queer Art of Failure” (Duke Univeresity Press, 2011), traduzido para o espanhol e lançado em 2020 no Brasil pela CEPE editora como “A Arte queer do fracasso”; “Gaga Feminism” (Beacon Press, 2012), “Trans: A Quick and Quirky Account of Gender Variability” (University of California Press, 2018), traduzido para o espanhol; “Wild Things: The Disorder of Desire” (Duke University Press, 2020), “The Wild Beyond: Music, Architecture and Anarchy” ( a ser lançado).
27 de abril
18h
Afectos sudacas. Acción y desilusión según Andrés Di Tella y la protesta chilena
Cecilia Macón leciona e pesquisa Filosofia da História na Universidade de Buenos Aires. “Sexual Violence in the Argentine Crime Against Humanity Trials. Rethinking Victimhood” (2016) é seu primeiro livro. Editou “Pensar la democracia, imaginar la transición” (2006), “Trabajos de la memória” (2006), e cooeditou “Mapas de la transición” (2010), “Pretérito indefinido. Afectos y emociones en las aproximaciones al pasado” (2015), “Afectos Políticos. Ensayos sobre actualidad” (2017) e “Affect, Sex and Gender in Latin America” (2021). Desde 2009, ela coordena o SEGAP, um grupo de pesquisa interdisciplinar dedicado aos estudos da memória, teoria do gênero e estudos visuais, concentrando-se em debates originados nas teorias dos afetos. 28 de abril
18h
Batalhas morais: política identitária na esfera pública técnico-midiatizada
Richard Miskolci é professor titular de Sociologia da Unifesp, pesquisador do CNPq e coordenador do Quereres – Núcleo de Pesquisa em Diferenças, Direitos Humanos e Saúde. Há 15 anos, pesquisa os usos das tecnologias de informação e comunicação (TICs), tendo organizado o primeiro dossiê brasileiro de Sociologia Digital e publicado inúmeros artigos e dois livros nessa linha investigativa, ambos pela Autêntica Editora: “Desejos digitais” (2017) e, o recém-lançado “Batalhas morais: política identitária na esfera pública técnico-midiatizada” (2021). Coordena a área de Ciências Sociais e Humanas em Saúde no Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp e atua nos Programas de Pós-Graduação em Sociologia (UFSCar) e Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Unifesp). Foi coordenador adjunto da área de Sociologia na Capes (2014-2018).
29 de abril
18h
Black Feminist Refusals and the Genealogy of Non-Binary Blackness
Tavia Nyong’o é professor titular de Estudos Afro-Americanos, Estudos Americanos e Estudos Americanos de Teatro e Performance na Universidade de Yale. É autor de “The Amalgamation Waltz: Race, Performance, and the Ruses of Memory” (University of Minnesota Press, 2009), ganhador, em 2009, do Errol Hill Award for best book in African American theatre and performance studies, e “Afro-Fabulations: The Queer Drama of Black Life” (New York University Press, 2018), ganhador em 2019 do Barnard Hewitt Award for Outstanding Research in Theatre History, concedido pela The American Society for Theatre Research. Nyong’o é coeditor de “Social Text” e da coleção “Sexual Cultures”, da New York University press. Atualmente, trabalha em dois projetos: uma pesquisa sobre raça e especulação com foco no trabalho de Samuel R. Delany, e uma pesquisa sobre estética queer diaspórica no contexto do liberalismo tardio.
30 de abril
17h
O arcaico e o moderno: Representações da favela, 1890-1930
Rafael Cardoso é PhD em História da Arte pelo Courtauld Institute of Art/Universidade de Londres, membro da AICA-Deutschland e do Verband Deutscher Kunsthistoriker (CIHA). Atua como colaborador do Programa de Pós-Graduação em História da Arte da Uerj e como pesquisador associado no Lateinamerika-Institut da Freie Universität Berlin (Alemanha). É autor de vários livros sobre história da cultura, da arte e do design no Brasil, sendo o mais recente: “Modernity in Black and White: Art and Image, Race and Identity in Brazil, 1890-1945” (Cambridge University Press, 2021). Tem como principais temas de trabalho e pesquisa arte brasileira, séculos 19 e 20; história das artes gráficas, dos impressos e do design; modernismo e primitivismo; exílio e transculturação; teoria da imagem; história do ensino artístico.
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