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Ana Paula Goulart Ribeiro |
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É formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (1990), tendo também cursado história na mesma instituição. Fez mestrado (1995) e doutorado (2000) em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou pós-doutorado na Universidade de Grenoble. É professora da Escola de Comunicação da UFRJ, onde coordenou o curso de jornalismo (2004-2007) e o Programa de Pós-Graduação em Comunicação (2013-2014). Foi responsável pela redação do livro Jornal Nacional: a notícia faz história e é autora do livro Imprensa e história no Rio de Janeiro dos anos 50. Organizou diversas coletâneas, como Mídia e Memória: a produção de sentidos nos meios de comunicação (com Lúcia Ferreira), Comunicação e História: interfaces e novas abordagens (com Micael Herschmann), Mikhail Bakhtin: linguagem, cultura e mídia (com Igor Sacramento) e História da Televisão no Brasil (com Igor Sacramento e Marco Roxo). She is Director of Communication and Memory of Intercom (Brazilian Society of Interdisciplinary Communication Studies) and member of Obitel (Ibero-American Observatory of Television Fiction). Coordena o GT de História da Mídia Audiovisual do Encontro Nacional de História da Mídia, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (ALCAR). Suas áreas de interesse e pesquisa são mídia, memória e história dos meios de comunicação. Atualmente, desenvolve a pesquisa "Mídia, Memória e Amnésia: o jornalismo e a cultura da nostalgia no mundo contemporâneo", como bolsista de produtividade do CNPq. |
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RIBEIRO, Ana Paula Goulart; BERTOL, Rachel. Memórias em disputa na cobertura do caso Snowden: a reinvenção da autoridade jornalística na era digital. Contracampo, v.35, n.3, 2016.
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. A história oral nos estudos de jornalismo: algumas considerações teórico-metodológicas. Contracampo, v.32, p. 73-90, 2015.
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Nelson Werneck Sodré e a história da imprensa no Brasil. Intercom (São Paulo. Online), v. 38, p. 275-288, 2015. >KELLY-SANTOS, Adriana; MONTEIRO, Simone; RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Acervo de materiais educativos sobre hanseníase: um dispositivo da memória e das práticas comunicativas. Interface (Botucatu. Impresso), v. 14, p., 2010. RIBEIRO, Ana Paula Goulart Ribeiro; ROXO, Marco; SACRAMENTO, Igor. O PCB e a modernização midiática: propostas de análise das relações entre comunistas e a televisão nos anos 1970. Em Questão, v. 15, p. 65-80, 2009. RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Memória, relatos autobiográficos e identidade institucional. Comunicação & Sociedade, v. 47, p. 99-114, 2007. RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Discurso e poder: a contribuição barthesiana para os estudos de linguagem. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (Intercom), São Paulo, v. 27, n.1, p. 79-93, 2004.
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa carioca nos anos 1950. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 31, p. 147-160, 2003.
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. A mídia e o lugar da história. Lugar Comum (UFRJ), n.11, p. 25-44, 2000. |
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Mídia, memória e amnésia: o jornalismo e a cultura da nostalgia no mundo contemporâneo
Descrição Um dos objetivos desse projeto é apresentar, da perspectiva da comunicação, uma discussão sobre o conceito de memória e de esquecimento em algumas de suas múltiplas acepções e também tratar das suas relações com três duplas de questões que lhes são correlatas: indivíduo e sociedade; tempo e narrativa; e identidade e poder. Para pensar a mídia como um lugar privilegiado na produção de narrativas mnemônicas na contemporaneidade, é preciso colocar como centrais questões realtivas à temporalidade, a identidades sociais, ao ambiente tecnológico, à lógica do espetáculo e do entretenimento. O objetivo final é chamar atenção para o que nos parece ser as particularidades da memória hoje. Nossa proposta é fazer isso enfatizando o campo jornalístico, onde as articulações com a cultura da memória são menos evidentes, devido ao presentismo e importância da atualidade na produção da notícia. Para atingir esses objetivos teóricos, o projeto parte não apenas de uma discussão bibliográfica, mas também da análise de fontes empíricas. Será tomado como ponto de partida um conjunto bastante diversificado de materiais da década de 1990 aos dias atuais. Utilizaremos não apenas produtos midiáticos identificados com a cultura da memória e da nostalgia (como filmes, minisséries, programas jornalísticos, biografias, sites, redes sociais, revistas de divulgação científica, livros de autoajuda e outras obras impressas e audiovisuais), mas também aqueles considerados de autorreferenciação (como editoriais, publicidade e propagandas, edições comemorativas, retrospectivas de fim de ano, edições institucionais). Como parte desse último grupo também entram as efemérides comemorativas, momentos muito explorados pelas empresas de comunicação para falarem de si e de seus valores. Nos tempos em que vivemos, lembrar e esquecer se articulam numa lógica que vai além da dialética fundadora de toda memória e constitui a próprio princípio contraditório do seu funcionamento. E é exatamente essa complexa, difícil e problemática articulação entre memória e amnésia no mundo contemporâneo o tema desse projeto de pesquisa. A intenção, aqui, é justamente tentar entender de que maneira essas duas dimensões coexistem nas sociedades contemporâneas e perceber quais as relações que entre si estabelecem. Em que medida amnésia e a memória podem coexistir e se relacionar? Como nossa reflexão parte do campo da comunicação, há uma questão importante que nos toca de perto: qual é o papel da mídia na conformação de uma memória social na contemporaneidade? Se examinarmos de perto a cultura da memória e seus produtos, percebemos facilmente o lugar privilegiado que os meios de comunicação em geral – sejam os novos ou os tradicionais – ocupam na produção e fortalecimento de suas práticas. E, então, muitas perguntas se colocam. Por que existe uma obsessão pela memória na mídia? Como certos enquadramentos da memória se externalizam e se legitimam nos meios de comunicação? A chamada “cultura da memória” parece estar por toda parte: filmes, livros, exposições, vestuário e mobiliário retro. Mas o que é importante sublinhar é o lugar que as mídias (as tradicionais e as novas) ocupam nesse processo. O culto ao passado perpassa a sociedade como um todo, inclusive as práticas pessoais mais cotidianas (como o desejo de tudo guardar e arquivar, o medo do esquecimento e da amnésia), mas é nos meios de comunicação que ele ganha maior visibilidade e poder de agendamento social. Para reforçar a ideia da existência de uma intrínseca relação entre cultura da memória e cultura da mídia, podemos citar alguns exemplos de apropriação da nostalgia pela indústria do entretenimento midiático: superproduções cinematográficas que exploraram a temática histórica, remakes de novelas, séries e minisséries sobre o passado de uma localidade ou nação ou sobre determinados eventos específicos, canais de TV dedicados integralmente à história, como o History Channel, assim como programas televisivos como o Arquivo N, da GloboNews. Vale destacar o sucesso do canal Viva, que reprisa programas produzidos pela TV Globo e pelo GNT e é hoje um dos mais assistidos da TV paga brasileira. Os exemplos ligados ao entretenimento midiático poderiam ser citados a exaustão, mas há outro fenômeno que nos interessa mais particularmente e sobre o qual repousará a ênfase da pesquisa aqui proposta. Diz respeito ao jornalismo, que também tem sido afetado pelo movimento de valorização do passado. Nos últimos anos, tem feito constantemente apelo à história, tanto nos seus processos de legitimação social, de autorreferenciação, quanto no seu enunciar cotidiano, jornalístico propriamente dito (como notícias, reportagens, notas informativas). E o têm feito de uma maneira cada vez mais constante e intensa. Nos últimos anos, seu olhar tem se voltado mais para trás. Estamos presenciando a uma verdadeira explosão do discurso da memória no jornalismo. Isso poderia parecer uma contradição, pois o jornalismo é, por definição, a negação do passado. Os jornais e os programas jornalísticos em geral são produzidos para comunicar aos contemporâneos, sincronicamente localizados, os acontecimentos de seu tempo. São feitos para os leitores e espectadores, não para os historiadores. Sua âncora é o tempo presente. Seu eixo articulador é o atual, o novo. Eis nossa principal hipótese: a dimensão memorialística da prática jornalística é fundamental para dar sentido à profissão no mundo contemporâneo. E acaba funcionado, inclusive, como um elemento importante no próprio processo de legitimação social de sua função “principal”. Os jornalistas percebem a dimensão memorialista de sua prática e a utilizam para fundamentar seus valores, para justificar sua deontologia. Semantizar o presente e construir sentidos sobre o passado têm sido, na atualidade, uma das características mais valorizados pelos meios de comunicação jornalísticos. |
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